(ENEM PPL - 2013)
Grupo escolar |
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Sonhei com um general de ombros largos | |
que fedia | |
e que no sonho me apontava a poesia | |
enquanto um pássaro pensava suas penas | |
e já sem resistência resistia | |
O general acordou e eu que sonhava | |
face a face deslizei à dura via | |
vi seus olhos que tremiam, ombros largos, | |
vi seu queixo modelado a esquadria | |
vi que o tempo galopando evaporava | |
(deu para ver qual a sua dinastia) | |
mas em tempo fixei no firmamento | |
esta imagem que rebenta em ponta fria: | |
poesia, esta química perversa, | |
este arco que desvela e me repõe | |
nestes tempos de alquimia. | |
BRITO, A. C. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). 26 Poetas Hoje: antologia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1998. |
O poema de Antônio Carlos Brito está historicamente inserido no período da ditadura militar no Brasil. A forma encontrada pelo eu lírico para expressar poeticamente esse momento demonstra que
a ênfase na força dos militares não é afetada por aspectos negativos, como o mau cheiro atribuído ao general.
a descrição quase geométrica da aparência física do general expõe a rigidez e a racionalidade do governo.
a constituição de dinastias ao longo da história parece não fazer diferença no presente em que o tempo evapora.
a possibilidade de resistir está dada na renovação e transformação proposta pela poesia, química que desvela e repõe.
a resistência não seria possível, uma vez que as vítimas, representadas pelos pássaros, pensavam apenas nas próprias penas.